Eu podia ter escolhido fazer qualquer coisa da minha.
Qualquer coisa.
Mas escolhi carregar você.
Levava você pra qualquer lugar que eu ia, te contava no meu íntimo tudo que eu fazia, fazia anotações de tudo que eu tinha vontade de te contar. Um dia, quem sabe, ele vai querer saber, eu pensava.
Coitada.
Tudo que eu achava era que um dia tinha sido especial pra você. Te dei tanto carinho, afeto, as vezes quando não tinha em mim. As vezes queria sumir, mas estava lá pra você. Achava que você estaria para mim também. Lembro o quanto pedi pra você nunca deixar de existir em mim mesmo que você não quisesse mais estar comigo. E agora vejo que você já tomou sua decisão há tanto tempo, e eu parecendo um cachorrinho daqueles, bem irritantes, continuava a ladrar por atenção. Não quer.
OK.
Acho que você não acreditou em mim quando eu disse que não podia mais fazer isso comigo mesma, mas é verdade. Não dá. Não dá mais pra me magoar ou sentir pena de mim mesma. O mundo é tão grande.
Vou deixar você seguir sua vida. Mas precisava falar aquilo. Precisava largar a mala.
A gente vai aprendendo a viver assim, na marra, no grito, no sufoco, no impulso. Eu quis mudar o mundo, quis ser brilhante, quis ser reconhecida. Hoje eu quero bem pouco e prefiro me concentrar no agora do que planejar um futuro incerto. Eu me libertei da culpa e dei de cara com algo novo: não me encaixo, e aceito. Não é justo perder as asas no momento em que se descobre tê-las. É preciso poder voar, é preciso ter uma visão estratégica das janelas. Ver o sol e não poder tê-lo é absurdo. Ter o amor e depois acostumar com a indiferença não dá.
Vai que um dia outro pássaro louco cruza teu caminho, eles dizem. Vai que. E eu me pego pensando se existe mesmo alguém em algum lugar capaz de acompanhar o ritmo destas asas. Vai que um dia ele aparece. Vai que.