quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Sinais

Distintos sinais. Enquanto estavam deitados, sozinhos no carro, conversando bobagens, ela tentava ler as entrelinhas de seus olhos. O jeito como ele falava, o seu jeito de andar, de sorrir com os olhos, de beijar, até o jeito de dar as costas. Ela poderia passar horas ali: o jeito que o seu carinho a envolvia era fatal. Acabava com toda a sua postura de mulher independente e malvada. Era como ela se sentia viva num mundo de tanta gente má: ali ela descobrira a existência de um coração bom. Aqueles cabelos cacheados, sorriso bobo e olhos castanhos com a profundidade do céu. Mãos macias feito luvas passavam por seu rosto... Sinais. Enquanto sua voz dizia pra ela se afastar, seu corpo a queria. Ele pegava-a em seus braços. Segurava-a pela cintura na frente dos amigos. Não largava de sua mão. Colava seu coração partido. Mal sabia ele que ela não tinha coração partido perto dele. Não tinha coração, pois aquilo que palpitava em seu peito era maior que aquilo. Uma sensação que ela nunca vai poder explicar: descobrindo o verdadeiro significado da expressão "borboletas no estômago"... Nunca houve alguém que fizesse por ela o que ele fez: deitar sob as estrelas e ouvir seu coração. Ele sabia todos os trejeitos dela. Só tinha medo. Ela também. Tinham medo de se apaixonar. Tinham medo de viverem juntos e nunca mais quererem se separar. Mal sabiam que já estavam irremediavelmente unidos pelo amor. E isso o impediu de seguirem em frente. Ele nem a interpretava mais, pois já sabia que ela possuía duas opções de dizer o que não se deveria dizer sobre ela: lendo as entrelinhas de seus textos idiotas ou olhando no seus olhos. E a segunda opção ele sabia que só ele tinha.

domingo, 21 de novembro de 2010

O dia egoísta da solidão

Ela levantou-se da cama, ainda com a vista meio embaçada e as pernas pesadas. Foi até o banheiro, já pensando no dia que teria que enfrentar. O cansaço batia, e aquele resquício de sono impediu que ela visse o que se passava à sua volta. Porque a casa estava tão vazia? Ah - pensou - todos devem ter saído. Colocou a cabeça pra fora da janela, pensando em olhar o tempo e decidir o que vestir antes de sair. Mas porque a rua estaria deserta em plena quinta-feira? Onde estaria o barulho daquela cidade? Estranhou. Olhou as horas. Eram 08h07 da manhã: onde estavam os carros? E as pessoas? Será que estaria sonhando? "Não é um sonho", respondeu uma voz. Assustou-se. Pensou em quem estaria falando com ela em meio a esse silêncio. Apressou os passos do quarto até a sala. Deu outra olhada na casa. Nada. Sentou-se à mesa. A vontade de tomar um café a distraiu por um momento. Prendeu-se aos seus devaneios. mas a voz continuou a falar: "Não era isso que você tanto queria? A solidão? Trago seu desejo comigo, e estou realizando-o. Não vais precisar encarar ninguém, lidar com as mentiras e desculpas esfarrapadas, com o stress, com o tédio humano. Você resolveu viver quieta e sozinha, e sempre quis um dia somente seu. Aí está. Esse dia vai servir para que você perceba o quão triste é tentar evoluir deixando de lado todos aqueles que te fizeram chegar nesse lugar. O quão depressivo é viver ilhado, onde o mar de mágoas e decepções se faz presente por todos os lados do que restou da esperança. Você vai continuar triste, afinal pessoas não são perfeitas. Uma hora todas elas vão te fazer sofrer. Você vai aprender que vai chegar uma hora que você terá que perdoar, terá que esquecer, fingir que não viu, e continuar sofrendo como você sofre quando está só, mas vai valer a pena quando você olhar pro lado e não se ver sozinha. Cabe a você, e apenas a você, a escolher como desejará viver. Ainda quer viver sozinha?" A menina apenas ouviu calada, pensou por um momento e finalmente respondeu a voz, que já identificara:
- Enquanto houver a mim, nunca estarei sozinha. Sou a melhor companhia que encontrei pra mim. Me dou muito bem comigo mesma. Claro que, como todo relacionamento, tenho meus problemas comigo. Mas nada que eu não resolva, me resolvo. Não me magoarei, não me decepcionarei, não tirarei meus sonhos de mim, não esvaziarei meu coração, não esperarei de mim mais do que posso me doar. Solidão, você não me assusta mais. Não tenho medo. A cada dia que passa, menos te sinto. Costume. Vivo sozinha. E quer saber? Já nem ligo mais.
Esperou a resposta da voz que não a assustava mais, mas não houve réplica a esse desabafo. Silêncio. E ela apenas continuou bebendo seu café, olhando pra parede com os olhos vazios, mas com um pontada de felicidade no estômago, em saber que aquele dia ela poderia esquecer o entorno e pensar, mas pensar apenas nela. Suspirou.

She's not anyone

E ela que sempre achou que fosse real. Sempre buscando a verdade, por mais que ela tenha escorrido algumas vezes de sua mão, vindo fria por seus olhos e rolado pelo seu rosto quente. Seguiu fingindo que estava tudo bem, por mais despedaçado que seu coração estivesse. Procurou pessoas verdadeiras, que nunca seriam verdadeiras por muito tempo. Escutou inúmeros pedidos de desculpas: se apegava as coisas boas pra poder não desabar. Mas nada se constrói sem um bom alicerce... Aprendeu a ser estruturada, a dar apoio a todos a sua volta. Mas quem daria apoio incondicional a ela? Isso sugava todas as suas forças restantes. Esperou por alguém bom, alguém que ela achava que merecia, mas esse alguém nunca veio... A vida que ela conhecia era tão deprimente. Encarava o Sol e perguntava a Deus: Porque agora tem que ser assim? Sempre vai sentir saudades do tempo que era exaltada, com uma alma intensa, violenta e atormentada. Mas não se rendeu, nem parou, nem se desesperou ao saber que estava perdendo o jogo. Viveu assim: de galho em galho, até não aguentar mais.

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Canção do dia da saudade

O tempo (em tempos como esse) tem me ajudado muito. Pela primeira vez, eu o sinto. Eu percebo que ele passa. Vi todas as minhas dúvidas se esvairem da minha cabeça - ou pelo menos brincando de esconde-esconde comigo, e não faço questão de encontrá-las. Não agora. Só que hoje o tempo não ajudou. O tempo voltou. Me pegou desprevenida e encheu meu coração de um sentimento (saudade) tão pequenuto, que em toda sua enorme dimensão, tomou conta do meu dia inteiro, e me acompanhou até que eu me desse conta do porquê de sua presença. Não dá pra se esquecer do passado... Nem se deve tentar. Ele, às vezes, por estar distante, torna-se escuro e turvo, mas se faz presente nos nossos dias, e quando tentamos apagá-lo, ele se utiliza de sua arma mais poderosa: lembranças. Essas não nos deixam em paz: fazem com que a gente se transporte pra momentos como aquele domingo na casa da sogra, aquele sorvete que derreteu enquanto você ouvia uma mesma reclamação pela sétima vez, o copo de leite que te deixou com bigode e rendeu risadas pelo resto da semana, o quanto aquele amor valeu mesmo depois de tudo... E fazem com o que o dia se torne enfadonho e pesado. Informação demais. Não dá pra esquecer o que acontece com a gente quando se ama. Passe a semana sem lembrar, um mês sem lembrar, um ano sem lembrar, mas não tente esquecer o seu passado. Ele sempre vai te fazer desejar ter vivido um pouco mais, ter tido um pouco mais, sugado de tudo até a última gota. Mas quem está aqui pra mudar de assunto? Hoje eu só queria você de novo. Hoje, só hoje.

It's been raining since you left me
Now I'm drowning in the flood
You see I've always been a fighter
But without you I give up
I can't sing a love song
Like the way it's meant to be
Well I guess I'm not that good anymore
But babe that's just me
And I
Will love you, babe, always
And I'll be there forever and a day, always
I'll be there till the stars don't shine
Till the heavens burst and the words don't rhyme
And I know when I die, you'll be on my mind
And I love you, always
Now your pictures that you left behind
Are just memories, of a different life
Some that made us laugh
Some that made us cry
One that made you, have to say good bye
What I'd give to run my fingers, through your hair
To touch your lips, to hold you near
When you say your prayers, try to understand
I've made mistakes, I'm just a man

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Tédio

Vontade de esquecer das minhas tarefas e obrigações... E jogar tudo o que resta pro alto.Vontade de deixar a impulsividade, por essa vez, falar mais alto que a sensatez. Estou cansada desses dias, todos iguais. Parece que foi tudo programado e eu simplesmente aceito essa condição e sigo nesse marasmo. Sem novas sentenças, expectativas e emoções. Volta e meia me vejo perguntando qual a graça em andar em círculos. Está tudo estagnado; eu sento e vejo o tempo passar. Nem o tic-tac do relógio me assusta mais...

Fate

Is something you can not hide from.


(O acaso resolveu juntar todo o passado, socar dentro de um envelope, e mandar de volta ao remetente. E eu que sempre achei que traçava minha vida, fui pega pelo destino.)

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Metades do todo

Sinto falta das coisas inteiras. Quando eu podia ter tudo: piscava o olho e era tudo meu, tava tudo na minha mão. Ah, que saudade desse tempo! Tempo que eu vivia cheia... De felicidade, de preocupação, de dúvidas. Cheia de medos, de ócio e de prazer. Vivia cheia e tudo ao meu redor era cheio. Tudo era um todo. Pessoas se eram todas. Sorrisos completos. Dores que foram sentidas até a última pontada no estômago. Ausências repletas de saudade. Cheinhas. Hoje sou vazia. Sou só metade. Sou dividida em duas. Só consigo ter meias palavras, meias atitudes, meias desculpas, meias verdades, meias mentiras, meio peso na consciência, meio interesse, meias presenças, meias ausências. Sinto falta do todo. O pior é que sinto até falta das coisas ruins: pelo menos elas não ficavam no meio do caminho (até pra percorrer o caminho, só percorre metade...). Sinto falta. Mas nem sei se quero tudo de novo. Uma pessoa acostumada com metades nunca vai saber como lidar quando encontrar o todo novamente.

sábado, 6 de novembro de 2010

(...)

E eu, que sempre achei que o tempo curasse tudo, descobri que não há tempo suficiente. Não há tempo para curar todas as feridas que tenho por dentro. Não há tempo que faça toda uma história passar. Não há tempo que nos faça esquecer. O tempo não cura: nem um pouco. Ele apenas fica parado. Nos fazendo lembrar. O tempo inteiro. Não há tempo suficiente. Pois bem. Farei o meu tempo: longe de tudo, especialmente de você. Sem uma carta de despedida, sem deixar qualquer marca, qualquer indício de que um dia eu fui tua. Deixar o amor desaparecer aos poucos. Deixar as marcas desaparecerem: as dos lençóis, as marcas dos dedos na pele. Pinte as paredes de cores novas que eu nunca vou saber... Porque eu não vou voltar. Não posso. Eu penso em te zerar. Em me zerar de ti. Esvaziar tudo o que preenchemos e fazer com que fiquemos mais leves, quase vazios, para que possamos outra vez transbordar. Sem buscar caminhos sem retorno, ruas sem saída. Mentir para mim que não nos conhecemos e estender o braço para uma segunda chance, folha em branco sem passado. Ponto final. Mas, no fundo, eu ainda prefiro acreditar nas reticências...

If I had eyes

Se eu tivesse olhos na minha nuca
Eu teria lhe dito que você parecia bem
Enquanto eu ia embora
E se você pudesse ter tentado confiar na mão que alimentava
Você nunca ficaria com fome
Mas você nunca ficou de fato
Um pouco mais disso, um pouco menos disso, faz alguma diferença?
Ou estamos apenas nos apegando a coisas que não possuímos mais?

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Ombra Mai Fu

Os ignorantes são mais felizes
Eles não sabem quando vão morrer
Eu não
Eu sei que eu tenho um encontro marcado
As pessoas esquecem o que precisam fazer
Eu não posso me dar esse luxo
Faço tudo caber nos meus próximos poucos dias