segunda-feira, 23 de março de 2015
Mas se você tivesse ficado, seria diferente? (repost)
"Tenho trabalhado tanto, mas sempre penso em você. Mais de tardezinha
que de manhã, mais naqueles dias que parecem poeira assenta e com mais
força quando a noite avança. Não são pensamentos escuros, embora
noturnos… Sabe, eu me perguntava até que ponto você era aquilo que eu
via em você ou apenas aquilo que eu queria ver em você. Eu queria saber
até que ponto você não era apenas uma
projeção daquilo que eu sentia, e se era assim, até quando eu
conseguiria ver em você todas essas coisas que me fascinavam e que no
fundo, sempre no fundo, talvez nem fossem suas, mas minhas, e pensava
que amar era só conseguir ver, e desamar era não mais conseguir ver,
entende? Eu quis tanto ser a tua paz, quis tanto que você fosse o meu
encontro. Quis tanto dar, tanto receber. Quis precisar, sem exigências. E
sem solicitações, aceitar o que me era dado. Sem ir além, compreende?
Não queria pedir mais do que você tinha, assim como eu não daria mais do
que dispunha, por limitação humana. Mas o que tinha, era seu. Mas se
você tivesse ficado, teria sido diferente? Melhor interromper o processo
em meio: quando se conhece o fim, quando se sabe que doerá muito mais —
por que ir em frente? Não há sentido: melhor escapar deixando uma
lembrança qualquer, lenço esquecido numa gaveta, camisa jogada na
cadeira, uma fotografia — qualquer coisa que depois de muito tempo a
gente possa olhar e sorrir, mesmo sem saber por quê. Melhor do que não
sobrar nada, e que esse nada seja áspero como um tempo perdido. Tinha
terminado, então. Porque a gente, alguma coisa dentro da gente, sempre
sabe exatamente quando termina. Mas de tudo isso, me ficaram coisas tão
boas. Uma lembrança boa de você, uma vontade de cuidar melhor de mim, de
ser melhor para mim e para os outros. De não morrer, de não sufocar, de
continuar sentindo encantamento por alguma outra pessoa que o futuro
trará, porque sempre traz, e então não repetir nenhum comportamento. Ser
novo. Mesmo que a gente se perca, não importa. Que tenha se
transformado em passado antes de virar futuro. Mas que seja bom o que
vier, para você, para mim. Te escrevo, enfim, me ocorre agora, porque
nem você nem eu somos descartáveis. E eu acho que é por isso que te
escrevo, para cuidar de ti, para cuidar de mim – para não querer,
violentamente não querer de maneira alguma ficar na sua memória, seu
coração, sua cabeça, como uma sombra escura."
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário